Tem ficado clara a profunda insatisfação que existe por parte de todos que participam do sistema de saúde suplementar em nosso País. Clientes reclamam do aumento das mensalidades, planos não conseguem autorização para os reajustes solicitados, hospitais estão sem revisão de seus preços há vários anos, médicos entram em guerra contra os planos de saúde, pacientes reclamam da dificuldade em acessar os serviços credenciados. Estes sinais, entre outros, apontam para um quadro de insatisfação generalizada.
A impressão que fica quando nos deparamos com os fatos citados é de que os problemas se esgotam com a solução isolada e única do ponto em questão. O principal, no entanto, é o menos visível. No entanto, dois aspectos absolutamente fundamentais têm estado ausentes dos noticiários, o que prejudica a compreensão do cenário atual, assim como a reflexão e adoção de medidas necessárias que tragam resultados sustentáveis.
O primeiro se refere às particularidades pouco visíveis da complexa indústria da saúde. Em grande parte das indústrias existe uma relação de compra e venda na qual estão envolvidas duas partes, a do comprador, que deseja um bem ou serviço, e a do vendedor, que dispõe deste bem ou serviço.
Nesta relação estão todas as nuances de uma negociação. Uma deseja, decide, paga e se beneficia. O outro dispõe, oferece e recebe. E tudo fica aparentemente resolvido entre as partes.
A complexidade que envolve o sistema de saúde suplementar está longe do acima exposto, tanto pelo número quanto pelo distinção de seus interesses particulares. De forma bem resumida podemos dizer que existe o beneficiário do ato médico (paciente), aquele que dá as ordens (o médico), aquele que presta o serviço (laboratório, clínica, hospital), aquele que assume o risco (plano de saúde) e aquele que financia o sistema (indivíduo ou empresa).
O grau de interdependência dos participantes do sistema é total: planos de saúde dependem de médicos, hospitais e laboratórios, pois são estes que efetivamente operam a saúde. Estes, por sua vez, dependem dos planos para viabilizar o acesso aos seus serviços. Esta é a dinâmica de interdependência do sistema de saúde suplementar.
Temos dois caminhos possíveis de serem trilhados na busca da cura efetiva de nosso sistema privado de saúde. O primeiro é o caminho árido de regras e imposições (hoje utilizado em grande escala) pela ANS em que prevalece a política da miopia, onde a visão é de curto prazo, temos muitos direitos e poucas obrigações, existe pouco planejamento e apenas temos tangenciado os sintomas. Este, na realidade, é o caminho que nos levará à destruição.
O único caminho viável é o da reconstrução, aquele que nos permite enxergar longe, refletindo sobre nossas obrigações. Buscar soluções sustentáveis através dos exames criteriosos das efetivas causas, sempre levando em consideração o impacto de nossas ações sobre o próximo, nos munindo de menos regras e de mais parcerias, já que estamos todos num mesmo grande barco, naufragando como um Titanic aos olhos insensíveis dos atores.
» Mardônio Quintas é médico e presidente do Sindicato dos Hospitais de Pernambuco.
A hora da verdade
Publicado em 21.08.2007
Mardônio Quintas
Tem ficado clara a profunda insatisfação que existe por parte de todos que participam do sistema de saúde suplementar em nosso País. Clientes reclamam do aumento das mensalidades, planos não conseguem autorização para os reajustes solicitados, hospitais estão sem revisão de seus preços há vários anos, médicos entram em guerra contra os planos de saúde, pacientes reclamam da dificuldade em acessar os serviços credenciados. Estes sinais, entre outros, apontam para um quadro de insatisfação generalizada.
A impressão que fica quando nos deparamos com os fatos citados é de que os problemas se esgotam com a solução isolada e única do ponto em questão. O principal, no entanto, é o menos visível. No entanto, dois aspectos absolutamente fundamentais têm estado ausentes dos noticiários, o que prejudica a compreensão do cenário atual, assim como a reflexão e adoção de medidas necessárias que tragam resultados sustentáveis.
O primeiro se refere às particularidades pouco visíveis da complexa indústria da saúde. Em grande parte das indústrias existe uma relação de compra e venda na qual estão envolvidas duas partes, a do comprador, que deseja um bem ou serviço, e a do vendedor, que dispõe deste bem ou serviço.
Nesta relação estão todas as nuances de uma negociação. Uma deseja, decide, paga e se beneficia. O outro dispõe, oferece e recebe. E tudo fica aparentemente resolvido entre as partes.
A complexidade que envolve o sistema de saúde suplementar está longe do acima exposto, tanto pelo número quanto pelo distinção de seus interesses particulares. De forma bem resumida podemos dizer que existe o beneficiário do ato médico (paciente), aquele que dá as ordens (o médico), aquele que presta o serviço (laboratório, clínica, hospital), aquele que assume o risco (plano de saúde) e aquele que financia o sistema (indivíduo ou empresa).
O grau de interdependência dos participantes do sistema é total: planos de saúde dependem de médicos, hospitais e laboratórios, pois são estes que efetivamente operam a saúde. Estes, por sua vez, dependem dos planos para viabilizar o acesso aos seus serviços. Esta é a dinâmica de interdependência do sistema de saúde suplementar.
Temos dois caminhos possíveis de serem trilhados na busca da cura efetiva de nosso sistema privado de saúde. O primeiro é o caminho árido de regras e imposições (hoje utilizado em grande escala) pela ANS em que prevalece a política da miopia, onde a visão é de curto prazo, temos muitos direitos e poucas obrigações, existe pouco planejamento e apenas temos tangenciado os sintomas. Este, na realidade, é o caminho que nos levará à destruição.
O único caminho viável é o da reconstrução, aquele que nos permite enxergar longe, refletindo sobre nossas obrigações. Buscar soluções sustentáveis através dos exames criteriosos das efetivas causas, sempre levando em consideração o impacto de nossas ações sobre o próximo, nos munindo de menos regras e de mais parcerias, já que estamos todos num mesmo grande barco, naufragando como um Titanic aos olhos insensíveis dos atores.
» Mardônio Quintas é médico e presidente do Sindicato dos Hospitais de Pernambuco.
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